As Terras da Costa estão localizadas numa faixa de terra entre a cidade e a arriba fóssil na Costa da Caparica, entre a via-rápida IC20 e o oceano Atlântico. Este projecto procura refutar a marginalização das Terras, fortalecendo a sua identidade e promovendo o relacionamento entre os cidadãos dentro e fora desta comunidade, capacitando-os para serem socialmente activos. Mais importante que tudo, este projecto torna possível um diálogo não conflituoso com as instituições e entidades locais.

Este projecto criou um centro comunitário providenciando uma resposta às diversas necessidades e expectativas desta população, oferecendo um espaço público multifuncional e intergeracional, trazendo acima de tudo um ponto de água potável no bairro. 

O projecto foi concebido e projectado através de um processo extenso e altamente participativo, que contou sempre com a presença activa desta comunidade na sua discussão. A Câmara Municipal de Almada apoiou o projecto através da autorização da sua construção assim como pelo fornecimento e instalação do equipamento necessário para a distribuição de água potável, num chafariz integrado na Cozinha comunitária. A Fundação Calouste Gulbenkian tornou possível a segunda fase do projecto da Cozinha através do Programa de Desenvolvimento Humano.

Sem água, saneamento e entre construções precárias. São estas as condições de vida de quase quinhentas pessoas, das quais aproximadamente cem são crianças, que habitam um bairro de génese ilegal na Costa da Caparica. Este bairro com o nome “Terras da Costa” foi formado à cerca de trinta anos e é constituído maioritariamente por duas comunidades, de origem cigana e cabo-verdiana.

As Terras da Costa é um território isolado e invisível onde as pessoas se sentem esquecidas e a intervenção pública mais determinante são as frequentes e severas acções policiais.
Muitas das famílias cozinham em fogueiras dentro ou na proximidade das casas, pondo em risco a segurança de um bairro sem água. É necessário percorrer um trajeto de cerca de 1 km para recolher água de um chafariz público.

A falta de espaço público também se revela um problema estrutural e de resolução urgente. Antes da construção da cozinha comunitária, não existiam espaços para reunir nem para as crianças brincarem, um aspecto crucial considerando que um número significativo destas crianças não têm acesso às escolas pré-primárias e passam o dia no bairro.

A estrutura, à semelhança do acontece no bairro, cresce de acordo com novas necessidades e novos recursos. Um simples módulo de madeira é reproduzido três vezes permitindo uma série de equipamentos: uma cozinha fechada; um espaço de refeições aberto; uma zona de lavagem e secagem de roupa e um espaço de convívio. Esta estratégia permitiu a adaptação dos espaços aos desejos da comunidade facultando deste modo os dados para organizar a área de construção de acordo com os financiamentos e apoios disponíveis.

O processo construtivo é acompanhado por várias actividades que têm como objectivo ajudar esta comunidade na decisão sobre o uso deste espaço, os seus direitos, deveres e as regras a adoptar para a gestão autónoma e sustentável deste equipamento.

Uma vasta equipa internacional e interdisciplinar (arquitectos, urbanistas, carpinteiros, artistas, mediadores sociais, etc) e um número crescente de voluntários, juntaram-se ao projecto desde o seu começo. A simplicidade da técnica dos pórticos de madeira e as inúmeras actividades em torno da zona de construção permitem que qualquer um faça parte deste projecto. A construção é por excelência um momento de partilha de conhecimentos e de uma aprendizagem prática “mãos-na-massa”.

Processo ao longo de 3 anos
 
Junho 2012 – O ateliermob é convidado para o workshop “Noutra Costa” promovido pelo Departamento de Arquitectura e o Centro de Estudos de Arquitectura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa para desenvolver um projecto para as Terras da Costa.
     
Desde então, o ateliermob colaborou com alguns dos representantes da UAL e membros das Fronteiras Urbanas – um projecto académico focado na alfabetização que teve lugar no bairro à alguns anos – para iniciar a mediação da relação com as autoridades públicas e melhorar as condições de vida dos moradores.
          
Fevereiro 2013 – A população decidiu através de um processo participativo que a construção de uma cozinha comunitária seria o passo prioritário na melhoria das suas condições de vida, constituindo-se como um espaço a ser partilhado por todos e gerido pelos moradores. Um lugar que oferece condições básicas para estar e cozinhar colectivamente, com alguns pontos de água e combate a incêndio.
     
Durante esse ano, o ateliermob tentou várias formas de financiamento do projecto da construção da cozinha comunitária, mantendo a Câmara Municipal de Almada sempre informada das suas diligências.
    
Agosto 2013 – Membros do colectivo francês de arquitectura Exyzt iniciaram o desmantelamento da “Casa do Vapor”, um centro comunitário efémero na Cova do Vapor, freguesia da Trafaria. Ofereceram, então, a madeira recuperada para a futura Cozinha Comunitária das Terras da Costa. O projecto não ganhou apenas novos materiais, mas também novas pessoas interessadas em participar no processo de projecto e construção, designadamente os membros do colectivo Warehouse.
     
Outubro 2013 – A recém composta equipa de intervenção (ateliermob + colectivo warehouse + casa do vapor), juntamente com a Comissão de Moradores das Terras da Costa, identificaram o melhor sítio para a construção da cozinha – um espaço originalmente cheio de entulho que foi limpo pela equipa e os moradores.
     
Novembro 2013 a Fevereiro 2014 – A Câmara de Almada anunciou a intenção de levar a água à comunidade. À espera de uma permissão formal para construir, a equipa do projecto lançou uma série de intervenções regulares, através de workshops com o objectivo de promover a aproximação à comunidade. Por exemplo, foi construído um painel de informação, uma caixa de correio, assim como, têxteis para a cozinha cosidos à mão. A mediação com os poderes locais continuou, bem como a procura de apoios e patrocinadores.
  
    
Março 2014 – Nas duas primeiras semanas a primeira fase de construção ficou concluída. O contacto diário nesta fase foi fundamental para fortalecer a relação e a confiança entre a comunidade, a equipa do projecto e alguns voluntários.
 
Abril e Maio 2014 – Enquanto ferramentas de apoio, existiram workshops e eventos, como um jantar de angariação de fundos, que estimularam a partilha de experiências e conhecimento entre a comunidade e os apoiantes deste projecto.
    
No início do mês de Maio os vereadores e o vice-presidente da Câmara Municipal de Almada foram conhecer as Terras da Costa numa reunião que aconteceu na cozinha comunitária e que teve como ponto final a garantia do fornecimento da água antes do Verão de 2014.
   
Julho 2014 – No fim de Junho, o financiamento da CCTC é aprovado pela administração da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi então tempo de restabelecer os contactos com os fornecedores com o objectivo de promover parcerias e descontos que fariam grande diferença para orçamento do projecto.
    
Na última semana de Julho começou-se a preparar o local para a construção, com o armazenamento da madeira, sombreamento, mesas de trabalho e mesas de corte.
    
Agosto 2014 – A segunda fase de construção prolongou-se por três semanas. Com o apoio fundamental da comunidade e voluntários de toda a Europa, o primeiro módulo desenvolveu-se num espaço público dotado de uma cozinha comunitária, uma zona de refeições, uma área de lavagem de roupa, um espaço multi-funcional, um equipamento para churrascos e um palco. O objectivo nesta fase foi construir a estrutura principal, o interior da cozinha e o mobiliário exterior. A zona do chafariz foi preparada para receber o ponto de água.
    
Setembro 2014 – A água chega às Terras da Costa, através de um novo Chafariz! Os trabalhos continuam com a instalação eléctrica e o sistema de esgotos, o pavimento exterior e o tratamento da madeira. Entretanto acontecem uma série de Workshops e eventos para a conclusão da construção da cozinha.

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Equipa: Warehouse + ateliermob
Financiador: Fundação Calouste Gulbenkian 
Parceiros: Câmara Municipal de Almada, SMAS Almada, Casa do Vapor, Studio AH-HA, Eurostand, Investwood, Exemplo Concreto, F. S. Máquinas, Carpintaria SALFER, Tintas CIN, Electricista Paulo Filipe
Com: Rúben Teodoro, Ricardo Morais, Sebastião de Botton, João Peixe, Inês Paiva, Samuel Boche, Licia Soldavini, Martinho Pita, Diana Pereira
Colaboradores: Cindree; Maël Castellan; Severine Brug; Céline Lixon; Merril Sinéus; Diogo Anjos; Emeline Romanat; Marion Levoir; Noémie Paperin; Ana Catarino; Zé Nuno; Catarina Matos Silva; Sofi Sousa; Anna Ibraev; Luis de Botton; Mariana Pires; Bernardo Lourenço; Ana Rita Mendonça; José; Madalena Garnier Marques; Diogo; Etienne; Mariana Vargues; Inês Martins; Ana; Du Carvalho; Braíma; Hugo; Victor; Ivan; Sr.Mário; Sr.Duarte; Lizzi; Dona Victoria; Dona Fonzinha; Marta; Thierry Oliveira; Cecilia Valenti.