O Observatorium é um ponto de encontro para a partilha e difusão de metodologias emergentes enraizadas na construção participativa de processos de arquitetura.

Nesta reflexão, o processo de concepção do objecto é mais relevante que o resultado final. Pretende-se compreender o impacto destes processos na cidade e nos seus habitantes.

“This is a breathtaking pace, and such a pace cannot help but create new ills as it dispels old, new ignorance, new problems, new dangers. Surely the opening vistas of space promise high costs and hardships, as well as high reward.”

John F. Kennedy, 12 Setember, 1962

À época do lançamento do programa espacial Norte-Americano com o intuito de colocar o Homem na lua, J.F. Kennedy exaltava o momento exilerante que então se vivia. Hoje, vivemos um período igualmente singular. Eventualmente, todas as gerações sentem que vivem tempos de mudança, talvez pela inerente irreverência de se ser jovem ou pelo conformismo de se ser menos jovem. No entanto, o frenético “click“ do rato, o fervilhar das metrópoles contemporâneas, a era da híper-informação, induz-nos nessa sensação de mudança“… e tal ritmo não pode deixar de criar novos males, uma vez que dissipa o velho, novas ignorâncias, novos problemas, novos perigos.”

Fala-se de uma crise na Arquitectura, na redefinição  do papel do arquitecto. Vivemos uma crise de valores, uma crise socioeconómica, um “desassossego” em relação ao futuro. Não é, necessariamente, o prólogo da queda dos velhos credos, nem a total convicção nos novos. Novas e “velhas” práticas vão, seguramente, coexistir, pois a mudança é gradual. Uma mescla de ideias e ideais, teorias e práticas como múltiplas faces de um mesmo objecto. E este espaço sideral (in)finito que partilhamos é pontuado por galáxias complexas. Nebulosas de jovens arquitectos coabitam com constelações cintilantes de estrelas novas e supernovas, buracos negros e todo o remanescente estelar.

Arquitectura Social, Arquitectura Temporária, Intervenção Urbana são expressões por vezes empregues levianamente, numa tentativa de catalogar as práticas emergentes. Arquitectura Social, por exemplo, é um conceito redundante, visto que toda a Arquitectura é, na sua essência, social.

Nem podemos defender que a denominação seja recente pois, desconstruindo o tema, podemos remeter Arquitectura Social às bases ideológicas das teorias urbanísticas e arquitectónicas de Le Corbusier nos anos 20 e aos primórdios do Movimento Moderno. Comprimir estas novas práticas arquitectónicas sob apenas um estandarte também parece redutor visto que estas reúnem múltiplas abordagens e condicionantes, divergindo, por exemplo, do arquitecto, projecto ou contexto.

Arquitectura Temporária também não se coaduna com o processo de concepção destes projectos pois, frequentemente, não é considerado o impacto e todas as ramificações que resultam dos mesmos. Existe apenas o consenso que a prática da Arquitectura e, principalmente, o papel do arquitecto está a mudar.

Observamos uma aproximação entre o arquitecto e a restante sociedade, resultado de uma abordagem mais activa e mais aberta, aliada igualmente  a uma diminuição dos processos burocráticos. Nesta medida, o arquitecto surge também no panorama urbano e social como um criador de inputs, tornando-se a si, através da sua prática, um dinamizador da cidade e um agitador social.

As capacidades de organização e mediação, outrora implícitas na coordenação das especialidades e nas relações com os clientes, evidenciam-se agora na mediação entre comunidades, poderes autárquicos e restantes agentes sociais, enfatizando como referido anteriormente, um papel mais participativo e activo do arquitecto.

A profusão de projectos top down provenientes das iniciativas mencionados, aliado a projectos bottom up firmados nas comunidades, constroem um processo colectivo que se transpõe para a organização dos ateliers em colectividades de arquitectura. Estas visam uma abordagem mais abrangente do acto criativo num processo participativo mais enriquecedor.

Nesta nuvem nebulosa mesclada e vibrante que estamos inseridos, emergem jovens colectivos e ateliers de arquitectura traçando o seu caminho, resolutos, visando uma prática mais focada numa participação activa e na riqueza do processo criativo colectivo em detrimento do culto da imagem e do autor.

“Seguramente os horizontes abertos do espaço implicam custos elevados e adversidades, bem como elevada recompensa.”

 

Equipa: Warehouse
Parceiros: Trienal de Arquitectura de Lisboa
Com: Rúben Teodoro, Ricardo Morais, Sebastião de Botton, Antoine de Maulmin
Colaboradores: Miguel Madrinha